segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Voltas e re-voltas


Voltar. A palavra “volta” aplicada em nosso dia-a-dia pode ter várias experienciações e “n” interpretações. Volta, retorno.
Volta de atitudes, sentimentos, volta a um relacionamento, volta de personalidades, volta de horário... mas a volta que venho tratar não é tão complexa quanto se parece, trata-se da volta a lugares, volta a um lugar em especial, volta ao lugar; sem jamais levar em consideração a monotonia, ou a derrota de determinadas voltas. Um simples/complexo voltar ocasionado pela busca de ideais (que no momento passam por mutações), a volta-ciclo de todas as férias ou feriados prolongados. Voltas e re-voltas.
Volto a essa cidade mais acostumado, mais receptivo, mais indagado, mais duvidoso, mais tranqüilo, paciente, calculista... me alimento da energia que essa cidade me disponibiliza, e me acostumo com momentos antes insuportáveis. Volto engolindo voltas e ignorando algumas atitudes, refazendo pensamentos e posicionamentos. Aceitando mais. Volto a essa cidade por onde ainda não acostumei a andar de chinelo de dedo, e vivo topando o pé em suas pedras que estão sempre a espreita prontas a mostrarem suas forças contra nós, ou melhor, contra nossos dedos.
Volto a essa cidade que ainda me surpreende em vários momentos e que ainda me causa monotonia e melancolia. Rever pessoas, ignorar pessoas, paisagens, imagens desconexas-conexas. Esse clima de “lar doce lar” incontestável e surreal, passageiro. A ilusão de se fazer comida para si mesmo sob um ilusionista fundo de independência e responsabilidade não se obtida na casa da família.
Volto em um momento de expurgação passageira, um momento de anestesia da sociedade como um todo, momento em que tudo girava em torno de tal. Volto em um momento de renovações e de sentimentos novos, prontos a receberem um sim (vezes um não), volto pronto a apostar, a viver o que achava ter sentido antes. Volto a teimar em ser o que eu querer ser, a ouvir, a calar, a inovar. Volto a Ouro Preto, volto a mim mesmo.

W.M. Cooper

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Uma catarse qualquer


Impressionante como o tempo pode nunca ter passado; esse imaginar nosso. Estar em um lugar que há tempos atrás já esteve e sentir-se como se ainda estivesse ali. As pessoas são as mesmas, os atos são os mesmos, sentimentos, risos, os lugares são os mesmos.
A distração de repente nos leva a acreditar que não há mais mundo "lá fora" e como que se houvéssemos tomado uma anestesia, por instantes, o que se viveu fora é apagado da memória. O que importa é estar ali, presente, rever pessoas, rever sentimentos, reafirmar laços.
As pessoas mudam, "afinam e desafinam", mas a essência de cada um continua ali e só quem realmente conhece determinada pessoa, é capaz de defini-las (ou não). As pessoas são difíceis, mas digamos que vale muito ficar confuso por elas. Vale cada momento de resoluções passadas, pedras no sapato, intrigas, falta de companheirismo, descobertas, afirmações. Vale, quando tudo isso resulta em um momento de total expurgação em uma mesa qualquer de um bar qualquer, onde tudo falamos, tudo sabemos e tudo queremos saber, onde por um momento nos permitimos. Onde nos olhamos, nos abraçamos, dançamos, filosofamos, rimos.
Talvez seja essa a grande receita para um "sair da realidade", vezes necessários: voltar a lugares do passado, rever amizades verdadeiras (viver amizades verdadeiras), sentar em um bar e "nos permitir" como diz o poeta. É prometer viagens, voltas e mais contato. É deixar que sua mente te guie aos mais ingênuos/perigosos devaneios, até então julgados incertos por uma sociedade com raízes em um cristianismo repressor e ridículo.
Arrisco ainda dizer, que talvez a receita dessa minha grande paz interior, tenha as suas raízes nutridas por esses momentos de total anestesia da realidade, esses momentos de total encontro com meu eu arrogante-repressor-anarquista-contrário ao que se é imposto misturado com a ingenuidade de um bobo apaixonado.
A receita por não ter receitas. Viver momentos de paixão e expurgação, acreditar que o tempo parou aqui e que lá fora a Terra gira no seu mais malicioso curso, é saber andar entre esses tempo-espaços abruptamente distintos, vezes cruéis e bondosos. Tomar essa anestesia sabendo que o tempo para e também não para, voltar e deixar que o choque de realidade te afete o menos possível, até que se esteja tão calejado que determinados choques não te atinjam mais.

W.M. Cooper